Eu estava pensando numa revista magra, finíssima, no máximo 30 páginas, sem merchan. Isso não existe, pois! Tenho feito minha própria revista, besteira, fiz para minha amiga, exclusivamente para ela. A ideia nada revolucionária é pegar um caderno velho e reunir o que eu quiser nela. Tesoura e cola tenaz. Tem umas coisas tão bobas imprimidas em páginas bonitas. Minha amiga ainda não sabe, só vai saber antes se passar aqui. Desconfio que ela não irá.
Os móveis baixos e amadeirados. Cair na cama te distanciava do teto e eu estendia assim o braço e caia para trás. E Laura ali, loira, loira como um pintinho, encolhida no canto do quarto. Mas...quem te fez isso? E você espera sangue mas eram fios finos e longos. Desculpa, eu...Não precisa chorar. Me dá sua mão. E é aquela mão de leite, aquela unha que não cresce. O sol entra tímido pela veneziana que insiste em ser verde. Já faz duas semanas que a poeira vem se aprumando, logo vai reinar. Estou aflito. Laura também já percebeu. Hoje os últimos biscoitos da lata. Ela me olhou após tomar o copo de leite, dente de leite. Quando vi, tinha pegado a tesourinha de costura, cortou tudo, pintinho. Você espera sangue, mas essa dor injetada precisa ser sólida? Vem cá, Laura, levanta daí, vamos fazer biscoitos? É linda, como mamãe. Os móveis baixos, tão perto de nós. Nenhum bilhete. Laura sorri e a mim basta.
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