Liliane Louva-a-Deus. E louvava. Seriamente em mínimos detalhes cravados em sua pele. As unhas curtas em contraste com o cabelo de riponga, compridíssimo, eu diria, joplinístico. Quando não amansava a juba em grampos e presilhas, era leoa. Calma, olhar baixo, devia ter medo de expor a pele, devia ter sardas, se é que usava sutiã. Louva-a-Deus? A cruz pendurada na garganta escorregou e foi andar na sua virilha virgem. Até a pomba velha da professora Cristine suou naquele dia. Liliane apareceu calma, passos suaves e ostentando nos lábios um vermelho rouge. A vi sorrindo. Vadia. Era então tudo uma brincadeira. A rebeldia fula orquestrada em moicanos pagos por cinco reais perderam a glória. Os furos, os pós, rendidos. Em tempos de gloss baby, o rubi venceu.
Os móveis baixos e amadeirados. Cair na cama te distanciava do teto e eu estendia assim o braço e caia para trás. E Laura ali, loira, loira como um pintinho, encolhida no canto do quarto. Mas...quem te fez isso? E você espera sangue mas eram fios finos e longos. Desculpa, eu...Não precisa chorar. Me dá sua mão. E é aquela mão de leite, aquela unha que não cresce. O sol entra tímido pela veneziana que insiste em ser verde. Já faz duas semanas que a poeira vem se aprumando, logo vai reinar. Estou aflito. Laura também já percebeu. Hoje os últimos biscoitos da lata. Ela me olhou após tomar o copo de leite, dente de leite. Quando vi, tinha pegado a tesourinha de costura, cortou tudo, pintinho. Você espera sangue, mas essa dor injetada precisa ser sólida? Vem cá, Laura, levanta daí, vamos fazer biscoitos? É linda, como mamãe. Os móveis baixos, tão perto de nós. Nenhum bilhete. Laura sorri e a mim basta.
Comentários
Sim, o livro foi lançado no Brasil pela Rocco.
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Abraço
Reges